domingo, 1 de agosto de 2010

A conquista do "País da Solidão"

Acaba de sair artigo em que examino o primeiro livro de Barbosa Lessa sobre a história do RS, em perspectiva também historiográfica (Rio Grande do Sul, prazer em conhecê-lo), na revista Fênix (UFU). O texto do Barbosa Lessa historiador acabou ficando muito parecido com a historiografia tradicional, a qual tanto criticou enquanto folclorista. Como, na minha opinião, o trabalho do analista não pode apagar as incoerências de uma obra/autor, vale a leitura um pouco incomodada, mas objetiva, da contradição - talvez aparente, dado que, politicamente, o livro continua afirmando o modelo, atualizado, do gaúcho pampiano, "centauro da pampa".




A conquista do "País da Solidão": Luiz Carlos Barbosa Lessa e a invenção do Rio Grande do Sul


Ainda somos filhos do século XIX. Muito do que constitui a experiência sóciohistórica contemporânea conheceu o mundo a partir das primeiras fábricas capitalistas ocidentais. A expansão industrial não somente consolidou a nova forma de organização econômica baseada na acumulação de capital, mas trouxe consigo novos fenômenos sociais, como o movimento operário, a organização política em partidos e, sem muito tardar, a produção e o consumo de massa. O imperialismo, por sua vez, levou o modelo de vida ocidental para as elites coloniais dos quatro cantos do planeta. Foi nesse momento que outro artefato cultural e político ganhou vida: a nação. Nos acostumamos, desde então, a (nos) pensar em termos nacionais. As lutas e os conflitos, bem como os acordos e as alianças, passaram a girar não mais em torno das dinastias ou casas reais, mas dos estados nacionais. Construímos nossas literaturas buscando a “essência” de nossas nações ou, simplesmente, classificando-as segundo as bandeiras empunhadas por nossos chefes políticos. Em função da nação, remodelamos nossos passados. Desenhamos nossas histórias a partir de genealogias imemoriais que atestam sua antiguidade. Deixamos de ser castelhanos, borgonheses, pomeranos ou correntinos para nos tornarmos espanhóis, franceses, alemães ou argentinos. A pátria, terra de nossos pais, se tornou a grande mãe nação. Aqueles pedaços de chão cuja extensão ou o poderio militar não permitiram uma vida política independente integraram unidades maiores. Os grandes impérios, por sua vez, dividiram-se em nações menores e “politicamente viáveis” ou, ainda, foram separados em regiões administrativas – e culturais – mais próximas do cotidiano dos súditos agora transformados em povo. Nos tornamos, finalmente, castelhanos espanhóis, borgonheses franceses, pomeranos alemães, correntinos argentinos...

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Este texto analisará como a historiografia de Luiz Carlos Barbosa Lessa concebe gaúchos brasileiros. Devido às proporções de um artigo, abordarei em específico o livro Rio Grande do Sul: prazer em conhecê-lo, publicado em 1984 como esforço de síntese sobre a história do Estado, em seus três primeiros séculos, identificando como o autor elabora discursivamente a identidade regional afirmando símbolos como “passado comum”, “ancestrais fundadores”, “paisagem e lugares de memória”, “panteão de heróis”, “folclore”, “hábitos” e “costumes”. Trata-se, em suma, de averiguar como a escrita da história é empregada pelo principal teórico do “movimento tradicionalista” para a “naturalização dos atributos associados ao gaúcho e ao Rio Grande do Sul”.

ZALLA, J. A conquista do "País da Solidão": Luiz Carlos Barbosa Lessa e a invenção do Rio Grande do Sul. Fênix - Revista de História e Estudos Culturais, v. 7, n. 1, jan.-abr. 2010.


Texto na íntegra: http://migre.me/10UHB

Um comentário:

Carla M. disse...

Paraéns pela publicação amigo!
E olhe, que estejaos livres de incorrer no erro do Barbosa Lessa crítico!
beijos!