segunda-feira, 5 de julho de 2010

Homens e mulheres de papel

Relações de gênero

Artigo publicado na revista Caderno Espaço Feninino, do Núcleo de Estudos de Gênero da Universidade Federal de Uberlândia, em que faço uma análise dos papéis de gênero no romance Os Guaxos, de Barbosa Lessa. Dois anos depois da redação, acho que posso ter sido um pouco duro com o autor; aprendi a valorizar aquelas conquistas que às vezes parecem pequenas, ocupam os interstícios, mas questionam em grande medida a ordem das coisas. Barbosa Lessa deu um papel central à mulher em seu texto, o que, dentro da tradição literária gauchesca, é uma grata inovação. A figuração de personagens femininas fortes também deve ser reconhecida e saudada. Ainda assim, quando pensamos e queremos combater a desigualdade, nenhuma crítica é demasiadamente radical. Seguem abaixo um trecho do texto e o link da publicação.

Homens e mulheres de papel ou Como se faz um “bom” gaúcho: desconstruindo a desigualdade de gênero na gauchesca de Barbosa Lessa - Os Guaxos


E se fôssemos de papel? Talvez a fragilidade da matéria não contivesse a complexidade do espírito. Talvez a finitude do concreto não limitasse os liames do porvir. O absurdo da pergunta exige um condescendente exercício de imaginação. Aqueles e aquelas que aceitassem a brincadeira talvez chegassem à conclusão de que homens e mulheres de papel são tão plenos de vida quanto homens e mulheres do delírio, dos quais, com pretensa arrogância, pensamos ser criadores/as e senhores/as. Convivemos com homens e mulheres de papel; discutimos acerca de homens e mulheres de papel; disputamos homens e mulheres de papel; construímos e reconstruímos homens e mulheres de papel, para assim construir e reconstruir a nós mesmos. Por fim, sonhamos ser, no fim de tudo, homens e mulheres de papel, que deixam, como no ideal grego, seu legado na memória de homens e de mulheres de carne.Este trabalho trata de homens e mulheres de papel. Para tanto, proponho um estudo de Os Guaxos, de Luiz Carlos Barbosa Lessa, publicado em 1959, visando analisar as representações de gênero nesse romance, que é o primeiro texto de fôlego do autor regionalista e militante-fundador do Movimento Tradicionalista no Rio Grande do Sul. Tais representações permitem pensar nos padrões de masculinidade e de feminilidade presentes no processo de invenção das tradições gaúchas e, ainda, suas relações hierárquicas. A pergunta que nos cabe responder é: de que forma os homens e as mulheres de papel de Lessa são construídos enquanto “homens” e “mulheres”?


ZALLA, J. Homens e mulheres de papel ou Como se faz um “bom” gaúcho: desconstruindo a desigualdade de gênero na gauchesca de Barbosa Lessa - Os Guaxos. Caderno Espaço Feminino, v. 20, n. 2, 2008, p. 209-235.

Leia na íntegra: http://migre.me/UA6f

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